Francisco Tancredo Torres
A bela paisagem no cume da serra da Borborema, na microrregião do Brejo Paraibano, fascina a quem nela vive e àqueles que a visitam. Areia, situada aí é, como diz o seu hino, um “Diamante engastado na serra. Lapidado da chuva e do sol”, com 174 anos de emancipação política. Um lugar propício ao ecoturismo, com rica fauna e flora. Seu conjunto urbanístico, arquitetônico e paisagístico desde 2005 é tombado como patrimônio cultural do Brasil.
É chamada de Terra da Cultura. Foi - e é - centro irradiador de cultura. Um “ninho também de condores”, voltando à letra do seu hino, por tantos intelectuais que nela vieram ao mundo e fizeram a história, tendo dado muitos nomes ilustres à Paraíba, ao Brasil e ao mundo, mas que acolheu outras mentes brilhantes que aqui fizeram residência e deram suas contribuições, em diversas frentes.
Uma destas mentes foi o jovem Francisco Tancredo Torres, que estudou, trabalhou, e soube registrar contundentemente, com exímio talento, as histórias desta “flor do bosque, que um o brejo circunda”, pois conhecia a fundo os bastidores de como Areia se ergueu. Menino nascido na cidade de Esperança em 1928, filho de comerciantes de tecidos, os pais a senhora Leonélia de Gouveia Torres e Joaquim Vitorino Torres. Ainda criança a mãe o estimulou a participar de movimentos culturais. Em criança, na escola, escrevia para o jornalzinho “O escolar”. Jovem, estudou na famosa Escola de Agronomia de Areia e nela formou-se técnico agrícola em 1948.
Funcionário federal aprovado em concurso com destaque, trabalhando primeiro no Estado do Ceará, em seguida em Pernambuco, onde deu aulas na Escola Agrícola João Coimbra e depois retornando à Areia para ser secretário geral da Escola de Agronomia do Nordeste, em 1958, e secretário do curso de Agronomia até aposentar-se, sempre foi reconhecido. Sua contribuição cultural para a cidade de Areia é tão marcante que ele recebeu o título de cidadão areiense em 1978. Para além de técnico Agrícola, ficou conhecido como historiador e jornalista, demonstrando talento nato, cujos rigorosos e deliciosos textos registrando a história de Areia-PB e de outras cidades da região, não apenas restringindo-se à Paraíba, deram-lhe um carimbo singularíssimo.
Reservado, pouco dava entrevistas. As concedia para trabalhos acadêmicos, e raras gravadas. Falava suavemente, mas era rigoroso com suas obrigações, as quais executava com muita devoção, como recordam alguns que o conheceram mais de perto. Amava Areia. Ali ficava, em uma casa com vista privilegiada ao quadro natural que de Areia se avista, na Rua Dr. José Evaristo, entre o Banco do Brasil e a Igreja do Rosário. Às tardes, me lembro bem, ficava debruçado na janela, a observar as pessoas em sua rotina de escola e trabalho, deleitando-se com a paisagem que dava para Alagoa Nova e outras cidades, fechando-a depois já com milhares de fervilhar de luzeiros de casas próximas e distantes, ou, em outros momentos, muito bem confortável em um tamborete defronte a banca de jornais nas proximidades da praça central, vendo a igreja da Matriz e o vaivém dos transeuntes já com o sol a esconder-se por trás dos telhados da centenária Areia.
Conta-se que, para cada fase da história da cidade, criava um jornal. Na vida adulta, quando trabalhou na Escola Agrícola João Coimbra em Pernambuco, ajudou a fundar outro jornal, “O Labor”. Fala-se bastante de sua biblioteca, rico acervo. Era muito inteligente, religioso, tendo sido secretário da Paróquia por algum tempo. Escreveu livros, discursos de homenagens, foi membro da Irmandade de Nossa senhora do Rosário em Areia e organizou várias atividades culturais junto às irmãs do Colégio Santa Rita, para o qual escreveu jornais comemorativos; membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia de Letras de Campina Grande, da Academia de Letras de Areia e de outras instituições.
É apontado como um dos fundadores do Jornal “O Areiense”, que pertenceu à Paróquia de Areia. Como se vê, seu currículo é vasto. Entre os inscritos de destaque, estão os livros “Areia Paróquia e Pároco 40 anos” em comemoração aos 40 anos de vida sacerdotal do monsenhor Ruy Vieira; “Um Município da Paraíba - Areia”; “Manoel da Silva - O Apóstolo da Abolição”; “Areia e a abolição da Escravatura” ; “Pedro Américo” e “Meio século de Música em Areia”. Francisco Tancredo Torres deixou um acervo que, hoje, está sob os cuidados da Biblioteca do CCA-UFPB, a qual leva o seu nome. Este acervo é rico, nos fala de Areia, da vida deste personagem e tem um material sobre o início da Escola de Agronomia do Nordeste.
Foi, sem a menor sombra de dúvidas, um guardião da nossa história, que ocupou as funções que exerceu pautado no rigor, nos constantes estudos. Um homem múltiplo que, habilidoso com as palavras, escreveu e interpretou a nossa história. Faleceu em 01 de julho de 2014. In memoriam, a Biblioteca Setorial Francisco Tancredo Torres, que leva o seu nome, e o projeto de extensão de reconstrução da memória do CCA-UFPB, prestam esta justa homenagem ao célebre Técnico Agrícola, escritor, historiador e jornalista Francisco Tancredo Torres.